A Coisa Ficou Preta: artista de Maceió resgata lambe-lambe, questiona o racismo e 'dá voz' aos muros do país

  • 06/09/2025
(Foto: Reprodução)
Conheça Gleyson Borges, o artista que, do lambe-lambe ao bordado, usa a arte para resistir 🖼️ Que Alagoas guarda riquezas históricas, artísticas e culturais não é segredo para ninguém. As músicas daqui falam, o artesanato conta histórias, os muros da capital alagoana gritam e se expressam das mais variadas formas. Do grafite ao lambe-lambe, Maceió é feita da voz do povo: é dele e para ele. Nas terras de Zumbi e Dandara, um artista se destaca por suas colagens que empoderam pessoas negras nos muros de Maceió. “Você me vê ou só o que eu carrego?” e “Quantas pessoas negras têm no seu filme favorito?”. Esses são só alguns dos trabalhos de Gleyson Borges, o criador do “A Coisa Ficou Preta”, a forma como ele assina suas obras de "intervenções pretas nos muros brancos", como ele mesmo define. ✅Clique aqui para seguir o canal do g1 AL no WhatsApp Formado em administração pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), desde 2016 usa a arte como instrumento de resistência, empoderamento e diálogo, ampliando a presença negra nas artes visuais. O g1 conversou com Gleyson sobre seu trabalho e a arte do lambe-lambe , que é um tipo de colagem feita em muros. ✊🏾A Coisa Ficou Preta "Político e provocativo", é assim que Gleyson descreve seu trabalho. Há quase dez anos ele trabalha como artista visual. Segundo ele, a ideia de criar o "A Coisa Ficou Preta" veio da ideia de ressignificar expressões racistas, quando o artista passou a fazer lambe-lambe, em 2018. "Falar que a coisa ficou preta historicamente, socialmente é uma expressão racista. É uma expressão que se refere a alguma coisa que deu errado, uma coisa que que ficou ruim e eu decidi adotar isso para mim, para trazer um novo significado, né?", fala Maceioense, Gleyson já colou sua arte por diversas cidades do Brasil, como Belo Horizonte e Recife, além de fazer intervenções no Rio de Janeiro e São Paulo. Para ele, colar em outros lugares exige mais atenção, cuidado e adrenalina pelo fato do lambe-lambe, assim como outras formas de arte de rua, é considerado como 'vandalismo'. "Em Maceió eu tenho noção de locais, de horários, de rotas para fazer meu trabalho da forma mais segura possível. Em outras cidades eu não tenho referência, então é um trabalho que exige um pouco mais de cuidado e atenção, principalmente por ser algo que costumo fazer sozinho", compartilhou Com mais de 55 mil seguidores nas redes sociais, a comunidade de Gleyson é bem engajada no trabalho do artista. Ele faz vídeos pontuando e se divertindo com os "melhores piores" comentários dos seus posts, enquanto o público ri dos tênis "excêntricos" usados pelo artista: enquanto ele posta fotos e vídeos mostrando os sapatos do dia, seus seguidores riem e brincam, dizendo que ele é o "rei dos tênis feios". É uma troca bastante significativa para quem faz a arte acontecer. Ele reconhece esse movimento e gosta das diferentes formas que as pessoas têm de apoiar sua arte. Segundo ele, é bom ver as mesmas pessoas comentando, apoiando e brincando. É um tipo de motivação. "Tem a galera que está sempre compartilhando, comentando e engajando nas minhas redes sociais, o que é importante também que ajuda na minha visibilidade no meu trabalho. Tem a galera que está combatendo comentários racistas que fazem nas minhas publicações. Então, mesmo sendo tudo isso acontecendo online, é um apoio que reflete no offline, reflete na minha vida", diz. Gleyson brinca com seus seguidores Reprodução/Redes Sociais 🎨👨🏽‍🎓As obras de Gleyson Borges De Maceió para o Brasil, as obras do artista já foram reconhecidas em diversos lugares, como quando a obra "Colação" apareceu em uma reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, para ilustrar o número de jovens na universidade e formação acadêmica. "Isso me mostra que eu estou indo pelo caminho certo, acho que é uma forma de validação que, querendo ou não, é importante para o artista, até como forma de motivação e de ter energia para continuar criando", disse. Para Gleyson, essa é uma forma de visibilidade potente. "É muito doido ver essas coisas acontecendo, é sempre uma surpresa, e são coisas que acontecem e eu fico acabando sabendo por outras pessoas que acompanham o meu trabalho nas mídias sociais e acabam mandando mensagem dizendo 'olha, está aparecendo num jornal', e eu fico 'oxe, como assim?'", brincou. A obra em questão era "Colação", que retrata um jovem negro, vestido com uma beca, traje usado em formaturas, atirando um diploma para o alto, tendo a educação como 'arma' para a emancipação social, política e econômica da população negra. Além dela, outras criações de Gleyson falam sobre reflexões sociais e ressignificados. A série "Pintado de preto", por exemplo, faz releituras de grandes obras que tem personagens principais brancos, como a 'Monalisa', de Leonardo DaVinci. Já "Dona Gil" retrata a frase, "Cansei de ser dona de casa, quero ser dona da rua", dita pela mãe de Gleyson em uma conversa na cozinha de casa. Veja as obras de Gleyson De acordo com ele, boa parte do discurso impresso nas suas obras vem do longo processo de se entender e reconhecer enquanto pessoa negra. Ele conta que ouvir o rap, principalmente artistas como Racionais Mc e Emicida, foi algo essencial nessa realidade. "Algumas artes tem um pouco menos, é menos perceptível essa pessoalidade, outras obras são puramente Gleyson, sabe? Algumas eu até já cheguei a pensar que parece que eu criei essa arte pra mim. Parece que eu tô tentando falar comigo mesmo. Então, é uma coisa que eu não consigo dividir. A minha história vai junto com a minha arte", fala. ✂️🖼️Lambe-lambe O lambe-lambe se desenvolveu bem no território brasileiro. Mais conhecido hoje pelo caráter publicitário, tem a sua característica passageira. Esse tipo de arte é colado nos muros das cidades e não se limita a divulgação de eventos, ele abraça uma grande variedade de temas, como poesia e manifestações políticas, normalmente mirando denúncias e causas sociais. Há quem diga que ele viveu seu auge durante a ditadura militar no Brasil, frequentemente utilizado como forma de denúncia. Com tesoura, cola e tinta nas mãos, o lambe é simples, acessível e marca presença em centros culturais e bairros históricos, como é o caso do Jaraguá, em Maceió. Para Gleyson, escolher o lambe-lambe se deu ao fato da rua ser o maior museu do mundo. "Eu acho que a rua é o lugar onde as coisas acontecem, é onde as pessoas estão, é o melhor e maior museu do mundo que está aberto 24 horas por dia, nunca fecha e para mim era essencial estar na rua, não queria fazer um trabalho puramente digital por exemplo", disse. Gleyson contou também sobre o seu processo criativo nesse tipo de arte. "Eu gosto de pensar que eu tenho uma grande caixa de ferramentas na cabeça e eu vou juntando várias pecinhas, várias ferramentas, pelas coisas que vão acontecendo no meu dia a dia. Então, as referências que eu tenho, as coisas que eu observo e o que eu acho interessante, as coisas que eu penso, as conversas que eu tenho com outras pessoas, os encontros na rua, consumo de outras formas de arte, sejam elas visuais, músicas, cinema", disse. Além disso, ele compartilhou um pouco da retroalimentação do seu trabalho. Segundo ele, o apoio é ele mesmo. "Tento vender alguns trabalhos, fazer alguns trabalhos com a minha arte que geram a renda que eu consigo reinvestir no meu trabalho, então faço tudo por conta própria, todas as contratações, serviço, compra de material, é tudo comigo". Hoje, o lambe-lambe não é a única forma de arte com que Gleyson trabalha. Agora madeira, stencil, literatura e bordado também fazem parte do seu portfólio. *Estagiária sob supervisão. Conheça Gleyson Borges Gleyson Borges/Arquivo Pessoal Assista aos vídeos mais recentes do g1 AL Veja mais notícias do g1 AL

FONTE: https://g1.globo.com/al/alagoas/noticia/2025/09/06/a-coisa-ficou-preta-artista-de-maceio-resgata-lambe-lambe-questiona-o-racismo-e-da-voz-aos-muros-do-pais.ghtml


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